Tropicália: A Revolução Cultural que Sacudiu o Brasil nos Anos 60
O Tropicália, também conhecido como Tropicalismo ou Movimento Tropicalista, foi um movimento de contracultura brasileiro que aconteceu na década de 1960. O movimento tem suas origens quando diversos artistas brasileiros resolveram se unir no Festival de Música Brasileira promovido pelas redes televisivas; o festival foi o movimento cultural mais influente e original depois do surgimento da Bossa Nova.
O nome foi escolhido por conta de uma das obras do artista Hélio Oiticica, que também foi nomeada Tropicália. Em geral, os tropicalistas tinham como objetivo renovar o cenário musical e valorizar a cultura brasileira, que era desvalorizada pela maior parte da população em relação à ultra valorização da cultura estrangeira. Assim, com elementos chamativos, os artistas traziam novos personagens para a cultura e principalmente para a música, e suas tendências se espalharam por todo o Brasil, especialmente no eixo São Paulo-Rio de Janeiro.
Além do ambicioso objetivo da quebra de padrões e paradigmas para construir uma sociedade para além daquele tempo, os tropicalistas foram muito influenciados pelo Concretismo, vanguarda do século XX marcada pelos nomes de Rubem Ludolf, João José da Silva Costa, Lygia Pape e outros, mesclada com a música rock’n’roll e a cultura pop; assim, os participantes do movimento eram conhecidos por usar roupas coloridas, atuações performáticas e também pela adaptação de elementos da cultura estrangeira para a cultura nacional, a exemplo de alguns instrumentos musicais.
O movimento tomava exatamente as mesmas proporções do Movimento Hippie que acontecia nos Estados Unidos, e o Tropicália teve uma grande oportunidade de lançar um festival composto somente por artistas tropicalistas, o que resultou no lançamento de um álbum chamado Tropicália ou Panis et Circensis no ano de 1968, o que para alguns estudiosos, foi entendido como a inauguração do Tropicália como Movimento Cultural. A Rolling Stone considerou o álbum como o segundo melhor álbum da história da música brasileira.
Dentre os vários artistas que fizeram parte do Tropicália, podemos destacar os nomes de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes, Tom Zé, Nara Leão e Torquato Neto. Além de músicos, o movimento também teve a participação de artistas plásticos, como Hélio Oiticica e Rogério Duarte.
Com o golpe de 1964 que deu início a ditadura militar, artistas começaram a sofrer com a censura, e alguns eram até mesmo sequestrados, torturados e mortos pelos militares, que os enxergavam como ‘’comunistas subversivos’’. A política militar acabou por censurar os tropicalistas com seu silenciamento, a partir daí, o uso de alegorias começou a ser adotado pelos integrantes, forma que foi vista para criticar a realidade política vivida pelo Brasil no regime militar, já outros fugiam para outros países para escapar do regime autoritário.
Isso fez com que em 1968, Os Mutantes fizessem sua última apresentação ao lado de Gilberto Gil, o que provocou o famoso incidente na boate Sucata. No dia do incidente, uma bandeira com a obra de Hélio Oiticica havia sido pendurada com a legendagem ‘’Seja Marginal, Seja Herói’’, com a imagem de um traficante que havia sido assassinado para criticar os atos da extrema militarização que tomava conta do país. Na época, os militares alegaram que Caetano Veloso também havia cantado ofensas aos militantes com o hino nacional, o que levou à prisão de Caetano e Gilberto, mas logo estes foram soltos e exilados no Reino Unido.
Com a aprovação do Ato Institucional Nº5, o ato mais severo executado na Ditadura Militar, a censura e repressão política havia se intensificado por todo o território brasileiro, o que levou ao fim do Tropicalismo. Assim, durante os anos de 1969 até o ano de 1974, surgiu um período conhecido como Pós-Tropicalismo, e os artistas surgiram com canções de caráter sombrio, abordando temas como a marginalização, tristeza, morte e derrota, melancolia e temas marcados pela solidão. Os músicos da época ressurgiram frustrados com seus sonhos de resistência e melancólicos, adotando posturas semelhantes aos artistas que compunham o Movimento Hippie do Woodstock.
No Pós-Tropicalismo, nomes como Tom Jobim, Elis Regina, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Maria Bethânia e João Gilberto receberam destaque, ao lado de diversos outros membros.
O Tropicália deixou sua marca registrada não apenas na música, mas também no teatro, cinema, artes visuais e escrituras de livros, como José Celso e o Grupo Oficina (no teatro), Rogério Sgarzela e Andrea Tonacci (no cinema) e Augusto Campos (na poesia). O contexto histórico do Tropicália também nos remete a movimentos que marcaram a década de 1960, a mais famosa por fazer críticas ao modelo de sociedade que estava sendo construído em todo o mundo. Além do Tropicália, também receberam destaque o Woodstock (também chamado de Movimento Hippie ou de Contracultura) nos Estados Unidos, o Neorrealismo Italiano, a Nouvelle Vague francesa e a Primavera de Praga na Tchecoslováquia (atualmente na República Tcheca).
Para além dos movimentos artísticos, o movimento de independência das colônias africanas (que se tornarão independentes a partir de 1960) também é um exemplo de movimento político para preservar a cultura nacional de seus respectivos territórios, dando valor maior à riqueza das Artes.