O Gabinete do Dr Caligari: Uma obra de arte atemporal do cinema
O medo sempre foi um dos sentimentos mais naturais desenvolvidos pelo ser humano, é uma das primeiras sensações que surgem conforme nos desenvolvemos, servindo de alerta para que possamos distinguir o que é ou não uma atitude, local ou qualquer situação que possa nos colocar em perigo. Mas há vezes em que o medo nos domina por completo, deixando nossos pensamentos e percepções em outro patamar que pode confundir as nossas mentes. E às vezes as pessoas mais inocentes podem esconder um passado perverso e contar as histórias mais tristes, alimentando este sentimento dominador, e um jovem rapaz revela sua história amedrontadora que se passou em um único ambiente: O Gabinete do Dr Caligari.
O filme é na verdade, um remake comemorativo do aniversário de 85 anos da obra original, lançada em 1920 na Alemanha, porém, o remake chegou aos cinemas e aos DVDs em 2005 graças à direção de David Lee Fisher. O longa-metragem é estrelado por Daamen J. Krall, Judson Pearce Morgan, Doug Jones, Neil Hopkins e Lauren Birkell.
*Alerta de Spoiler*
No filme, é contada a história de um misterioso hipnotizador mestre do Ilusionismo, conhecido como Dr Caligari, que chega a Holwenstall, uma pequena cidade na fronteira neerlandesa-alemã. Porém, o homem não chega sozinho: ele vem acompanhado de Cesare, um jovem sonâmbulo adormecido há mais de vinte anos que tem o dom de ver o futuro das pessoas em seu sono profundo. Mas uma onda de assassinatos começa de forma misteriosa e toma conta da cidade, e o jovem Francis tenta mostrar que Caligari não é quem parece ser, e logo, todas as suspeitas passam a cair sob o misterioso doutor.
Em meio à misteriosa onda de crimes, os amigos Francis e Alan disputam pelo amor de Jane, a jovem filha do delegado de polícia, Dr Joseph Stern. Mas ao mesmo tempo em que o hipnotizador se vê na mira das acusações de Francis, uma surpresa desagradável estará em seu destino.
O Gabinete do Dr Caligari é na verdade um filme mudo lançado originalmente nos anos 20 na Alemanha, destruída pela Primeira Guerra Mundial. O filme é o principal marco da vanguarda do Expressionismo Alemão no cinema, que passa a dar formas ao medo, às crises emocionais e políticas da população, servindo também como uma verdadeira e certeira crítica social. Originalmente, o filme foi estrelado por Werner Krauss, Friederich Feher, Conrad Veidt, Hans Heinrich von Twardowski e Lil Dagover; mas o centenário do filme comemorado em 2020 não fez com que a obra deixasse de mostrar um fato extremamente recorrente no cenário social mundial.
Com os impactos da guerra, todos os cidadãos, em especial os alemães completamente derrotados pela Grande Guerra, utilizavam uma mesma máscara, que também é usada pelos personagens: um pânico sem precedentes que atinge a todos. O cenário também foi muito influenciado não apenas pela história da Alemanha (chamada de Prússia até a coroação do Imperador Guilherme) mas também pelos cenários que começavam a tomar grandes proporções no fim do século XIX: a pobreza, os medos de mais conflitos, a árdua realidade da população, sendo exatamente o contrário do que pregava as ideologias do Impressionismo Francês.
O Expressionismo Alemão teve seu início estimado em 1920, depois da Primeira Guerra Mundial, e perdurou até aproximadamente 1930, quando a Alemanha deixava de ter a política da República de Weimar (também chamada de Reich – Reino – Alemão) para depois sofrer os impactos dos primeiros registros do regime nazista, condenando o país a um cenário de completa destruição. O movimento, no entanto, foi responsável por levar grandes nomes do cinema mudo, a exemplo de Conrad Veidt, para Hollywood, a então promessa de ouro do cinema. Seus cenários geralmente eram inspirados nos traços das pinturas deixadas por Vincent Van Gogh e Edvard Munch, porém, cenários que remetiam morte, medo e iluminações verticais era tudo o que era preciso para fazer com que seus filmes ficassem mais medonhos.
Apesar de o remake não ter sido feito sob as sombras tenebrosas do fim do Reich para o início da Alemanha Nazista, o filme foi recebido com críticas mistas, porém elogiando a extrema fidelidade do diretor David Lee Fisher para com o cenário original e a trama muito bem construída, não fugindo da estética da obra original, além de seus personagens terem um desenvolvimento extremamente crucial para os desfechos da obra. Além de ter sido um filme independente feito por Fisher com baixo custo e orçamento, a obra mostrou-se incrivelmente parecida com a dirigida originalmente por Robert Wiene.
O remake também foi muito comparado ao remake de Psicose, feito em 1989, mas que também foi extremamente fiel ao legado de direção deixado pelo mestre do suspense, Alfred Hitchcock, porém, este foi um dos poucos casos que o diretor David Lee Fisher refez o projeto original cena por cena, seguindo o enredo com muita proximidade. A única e óbvia diferença apontada pela crítica foi a substituição de cartões com falas dos personagens terem sido substituídos justamente pelos diálogos dos próprios personagens. O filme também foi responsável por ter dado maior destaque a Doug Jones, conhecido por atuar em diversos filmes de terror.
Além de reconstruir o filme vanguardista de ponta a ponta, as ações, interações e diálogos dos personagens ainda intimidam e causam calafrios em quem ainda se aventura para conhecer o clássico de maneira mais moderna, ainda com direitos a ver cenas de flashbacks muito bem reconstruídas por Fisher, além das prestigiadas atuações do elenco e a mímica de Jones.
Por conta do reconhecimento clássico e de sua importância para a construção e moldação do cinema como conhecemos hoje, o filme está disponível em domínio público na internet, bem como sua obra original que até hoje faz sua história amedrontadora.
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