Rosetta Tharpe, a mulher que criou o rock’n’roll
Nascida do estado do Arkansas em 1915, Rosetta Nubin (seu nome de nascimento) começou a se apresentar ainda criança, com apenas 4 anos de idade, quando acompanhava sua mãe em viagens ao sul dos Estados Unidos, na qual ela tocava bandolim na Igreja. Na infância, Rosetta conheceu gêneros musicais como o blues e o country, e apresentava também música gospel e proto-rock logo depois que sua família se mudou para a cidade de Chicago, tendo como inspiração a também musicista e cantora Lizzie Douglas (conhecida artisticamente como Memphis Minnie), sendo uma das maiores influências dos anos 20, ao lado de diversos músicos de jazz.
Na década de 30, se mudou para Nova York depois de se casar com o pastor Thomas Thorpe (arranjado por sua mãe), que lhe rendeu seu segundo sobrenome (este porém com erros de grafia. Mas foi somente em 1940 que assinou seu primeiro contrato com uma gravadora, e seu sucesso musical foi imediato, causando até alvoroços entre membros da igreja onde seu marido era pastor e que ela frequentava, por ela misturar elementos de música religiosa com diversos outros gêneros musicais, lançando seu primeiro álbum, Rock Me, pouco antes do início dos anos 40. Logo, ela se apresentaria ao lado de grandes nomes musicais, como Cab Calloway e Benny Goodman.
Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, Rosetta ganhou ainda mais destaque depois de apresentar performances musicais para as tropas americanas do outro lado do mundo (aliás, ela era um dos poucos artistas autorizados a continuar gravando discos durante a Guerra). Uma de suas músicas, Strange Things Happening Every Day, que ela apresentou ao lado do pianista de boogie-woogie Sammy Pierce, mostrou ao público seu grande empoderamento na indústria musical e sua virtuosidade como guitarrista, marcando outras duas grandes conquistas: foi a primeira música gospel a atingir o top 10 da Billboard e é considerada a primeira gravação em registro do gênero rock and roll.
Mesmo gravando novos hits agora em parceria com a Decca e a cantora Marie Knight, a popularidade de Rosetta entrou em declínio nos anos 50, pois Marie desejava ingressar no estilo pop, enquanto Rosetta continuava tocando para a Igreja. Foi então que Rosetta decidiu ingressar definitivamente na música gospel, mas não obtendo o mesmo sucesso de antigamente, pois ela estava mais preocupada em difundir suas palavras divinas do que atingir um círculo de fama e sucesso. O casamento entre Thomas e Rosetta chegou ao fim devido ao interesse do pastor no dinheiro que Rosetta ganhava com suas apresentações para viver às suas custas.
Já no final dos anos 50 e início da década de 1960, a influência de Tharpe no mundo da música havia se consolidado: ela constava na lista de maiores artistas populares aos 25 anos de idade, inspirando futuros nomes da música mundial como Elvis Presley, Isaac Hayes, Aretha Franklin, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis e Little Richard. Na mesma época, Tharpe havia gravado quatro álbuns do gênero gospel, chegando a fazer uma turnê em 1964 ao lado de músicos do pós-guerra.
Com o surgimento de novos músicos do pós-guerra que também representavam o blues em um gênero mais agitado, o cenário da indústria fonográfica havia mudado completamente, e mesmo com a turnê do Blues and Gospel Caravan, a popularidade de Rosetta não foi mais a mesma, mesmo com suas grandes influências para futuros artistas.
Durante uma das suas apresentações nos anos 70, Rosetta sofreu um derrame e precisou ter uma perna amputada por decorrência de sua diabetes. Em 1973, um dia antes de uma importante gravação para um possível novo álbum, Rosetta sofreu outro derrame e acabou falecendo. Em 1998, como um modo de homenagear Tharpe, o Serviço Postal dos Estados Unidos emitiu um selo comemorativo que estampava o rosto de Tharpe que custava cerca de 32 centavos; e em 2007, foi introduzida de maneira póstuma no Hall da Fama do Blues, e diversos artistas realizaram concertos e tributos em sua homenagem, além de produções de documentários e até mesmo uma peça musical (Marie & Rosetta) em 2016, que retratava a relação entre Marie Knight e Rosetta Tharpe.
O legado da mãe do rock foi tão aclamado e consolidado que no dia 11 de janeiro, é comemorado o Dia da Irmã Rosetta Tharpe no estado americano da Pensilvânia, e foi até mesmo cotada para integrar o Hall da Fama do Rock and Roll, embora até hoje nada tenha sido feito, mesmo com o apelo de diversos músicos e artistas. A mãe do rock ainda ganhou o direito de ter um musical biográfico escrito em 2017 chamado Shout, Sister, Shout!, que foi inspirado em sua biografia escrita por Gayle Wald. Além disso, no ano de 2023, a revista Rolling Stone elegeu Tharpe como a sexta maior guitarrista de todos os tempos.
Com o passar do tempo, um artigo da National Public Radio de 2017 publicou:
‘’ O rock’n’roll foi criado entre a igreja e as boates na alma de uma mulher negra queer na década de 1940 chamada Irmã Rosetta Tharpe”.
Depois de muito tempo resgatarem seus registros até então apagados, a publicação ajudou na relevância da descoberta do real impacto de Tharpe na música. A rainha que mesclou blues urbanos com arranjos folclóricos e swing ainda teria dito a respeito de seu estilo musical o seguinte:
‘’ Oh, essas crianças e rock and roll – isso é apenas ritmo acelerado, eu tenho feito isso desde sempre”.
Desde 2018, Tharpe é reverenciada como a mãe do rock, e depois de muita luta, ela conseguiu seu espaço no Hall da Fama do Rock como influência inicial.
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