Precisamos Falar Sobre o Kevin: Um perturbador e sinistro drama psicológico
O ambiente familiar é onde o desenvolvimento do ser humano como indivíduo começa, e é o primeiro cenário no qual desenvolvemos nossos primeiros laços afetivos e amorosos. Porém, a vida familiar nem sempre é um mar de rosas e nem sempre o vínculo será perfeito, sendo às vezes até um cenário para possíveis conflitos internos e desavenças. Mas a realidade familiar de Precisamos Falar Sobre o Kevin é completamente sinistra, macabra e sombria, especialmente para a protagonista.
O filme é uma adaptação do best-seller homônimo de Lionel Shriver, publicado originalmente em 2003, mas que chegou aos cinemas somente em 2011. O elenco principal do metragem é integrado por Tilda Swinton, Ezra Miller, John C. Reilly e Ashley Gerasimovich; já no Brasil, o filme foi adaptado para o português pelo estúdio Lexx, localizado no estado de São Paulo, e conta com os talentos de Cecília Lemes, Robson Kumode, Leonardo Camillo e Giulia de Brito.
*Alerta de Spoiler*
No filme, é contada a história de Eva Khatchadourian, uma escritora de livros sobre turismo que se recupera de uma tragédia familiar. Depois de se casar com Franklin, um fotógrafo de publicidade, ela acaba engravidando e precisa encarar a maternidade, porém, Eva nunca teve o desejo de ser mãe, se vendo obrigada a encarar um estilo de vida sedentário e monótono, cujo único propósito é cuidar da criança que logo nascerá. É então que ela dá à luz a seu filho, Kevin.
Kevin, no entanto, nunca foi uma criança planejada, porém foi muito bem acolhido pelo pai, embora sua mãe nunca tenha tido vontade de acolhê-lo (o que pode sugerir uma depressão pós-parto). Conforme Kevin crescia, seu sentimento de hostilidade por sua mãe aumentava, porém esse nunca sentimento era direcionado ao seu pai, além de também apresentar padrões de personalidade antissocial. Mãe e filho nunca foram próximos ou tiveram um forte vínculo, porém, a situação entre ambos fica mais delicada quando Eva engravida novamente, desta vez, uma criança planejada e desejada por ela, diferente do pai.
Mesmo com a chegada da irmã, Kevin nunca deixa de nutrir esses fortes sentimentos de raiva e fúria por sua mãe, e agora sua irmã, Celia, passa a também ser sua nova vítima, situação que atinge seu ápice quando chega à adolescência, quando Eva precisa se reerguer de uma tragédia.
A sombria trama de Kevin foi muito aclamada pela crítica e chegou a ser nomeado e selecionado para diversos festivais de cinema, como o Festival de Cannes e o Festival de Londres, nos quais ele ganhou uma menção honrosa e especial ao mérito técnico e o título de Melhor Filme. Ainda em 2011, Tilda Swinton foi indicada ao Globo de Ouro e ao SAG (Sindicato dos Atores) por Melhor Atriz de Drama, e venceu o prêmio de Melhor Atriz nos Prêmios do Cinema Europeu; e em 2012, o filme chegou a ser indicado às categorias de Melhor Filme Britânico, Melhor Diretor e Melhor Atriz pelos Prêmios BAFTAS de Cinema.
Um grande diferencial do filme é a maneira como ele explora o tema da violência, embora ele tenha uma atmosfera semelhante à de Elefante (2003), as representações de temas violentos não precisam ser necessariamente aparentes para evidenciar o que aconteceu ou está para acontecer. E notavelmente, o uso da cor vermelha no filme é de muita qualidade e representatividade simbólica, que pode evidenciar tanto a violência implícita que brinca com o imaginário do espectador quanto o laço de sangue familiar entre os personagens.
Embora retrate fatos que infelizmente chegam a acontecer na vida real, a história de Kevin é completamente fictícia, embora retrate alguns crimes reais que ocorreram na época da escrita e publicação do livro, como por exemplo, o próprio filme Elefante, do mesmo ano de publicação do livro, que retrata o Massacre de Columbine.
Outra grande característica são os pequenos detalhes nas atitudes de Kevin ainda criança que refletirão sobre quem ele será na adolescência, e também nos leva a entender o diagnóstico de Kevin se analisarmos o filme com um olhar voltado mais para a psicologia: Ele sempre tentou buscar a atenção da mãe como que para reivindicar o desejo materno, como se esperasse que ela o desejasse como seu pai, o que não acontecia. Além disso, Kevin, apesar de demorar para começar a falar, sempre foi muito inteligente, porém incapaz de se expressar. Porém, o filho sabia que a mãe nunca o desejou para si e o odiava, chegando a dizer que ela é sincera ao admitir esse problema em seu modo de se expressar sem necessariamente usar suas palavras, sendo que ela nunca se sentiu capaz de acolher seu próprio filho desde que descobriu que iria ser mãe.
Além da violência e transtorno de psicopatia e narcisista, Precisamos Falar Sobre o Kevin também aborda a maternidade e inicia a reflexão sobre até onde vão as necessidades de um filho/filha quando seus pais passam a ser responsáveis por eles, com uma pegada dramática somada com um thriller muito obscuro. Se sentiu cativado e atraído pelo cenário e pelos problemas da família Khatchadourian? O filme está disponível no Amazon Prime Video, e basta conferir o trailer para ter certeza de que está pronto (a) para mergulhar em uma análise que vai muito além do cenário familiar e que investiga o verdadeiro significado de vínculo familiar e afeto.
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