Quem foi Raul Seixas, o Maluco Beleza?
Raul Seixas, também conhecido como Maluco Beleza e Pai do Rock Brasileiro, foi um músico, compositor e produtor musical considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Destacado principalmente pelos gêneros rock e baião, é considerado um dos 100 Maiores Artistas da Música Brasileira promovida pela revista Rolling Stone nos anos 2000, ocupando a décima nona posição, ficando na frente de outros grandes nomes da música nacional como Heitor Villa-Lobos, Maria Bethânia e Milton Nascimento.
Nascido em Salvador, desde a infância Raul apresentava muito interesse em música, a ponto de reprovar três vezes na segunda série devido ao fato de matar aula para ouvir rock em uma loja de discos local. Anos antes, após concluir o curso primário, fundou com alguns amigos o Club do Cigarro. Depois de fundar um outro clube, o Elvis Rock Club, Seixas começou a expandir sua vida social; o novo clube tinha um típico estilo de gangue: procurava promover brigas nas ruas, roubar bugigangas e utensílios de casas e lojas, quebravam vidros e causavam tumultos. Embora integrasse o clube, Raul não gostava muito de se envolver nas confusões, alegando que somente o fato de o rock ser a única coisa em comum com os outros membros deu a ele um estilo de ser.
Depois de ser matriculado pela família em um outro colégio, desta vez num internato, Raul começou a se interessar por leitura e literatura, fomentando a mesma paixão de seu pai, que possuía diversos livros em casa. Isso levou Raul a exercitar a imaginação, criar personagens, escrevia enredos e até chegava a desenhar nos cadernos, entregando tudo ao irmão mais novo. Seixas frequentava a escola uma vez ou outra, exigia o boletim e entregava um falsificado aos pais, sendo questionado se ele realmente havia concluído os estudos, quando sua mãe sabia que ele ficava ouvindo rock de Elvis Presley e Little Richard, os quais ela se referia como maluquice, o que levou Raul a não ser tão bem visto e compreendido pela família.
Mesmo com a paixão pela música, Raul aspirava ser escritor como Jorge Amado. Logo, ele se juntou a alguns grupos que tocavam em praças, lojas e ruas ainda nos anos 60, grupo o qual foi nomeado como Os Panteras. Na mesma época, começou a namorar a filha de um pastor americano protestante, que era contra o relacionamento; porém, depois de Raul completar o segundo grau, fazer vestibular e passar em Direito, Filosofia e Psicologia, ele se casou com sua primeira esposa, Edith Wisner e se mudou para o Rio de Janeiro a convite do ator e cantor Jerry Adriani. Ele abandonou seus estudos depois do casamento.
Em 1968, o primeiro álbum de Raul, Raulzito e os Panteras, foi lançado. Porém, o álbum foi recebido com muitas críticas negativas e não cativou tanto o público, levando Seixas a partir para Ipanema para tentar divulgar suas músicas, mas passou por muitas dificuldades, chegando até a passar fome. Abalado, Seixas voltou para Salvador e começou a estudar filosofia, mas também começou a desenvolver problemas de visão. Lá, ele também conheceu o diretor da gravadora CB Discos, recebeu um convite para trabalhar na gravadora e voltou para o Rio com a esposa, levando consigo seus enciclopédicos, onde escrevia suas composições, para se tornar um renomado produtor fonográfico.
Enquanto trabalhava anonimamente na CB Discos, Raul tornou-se amigo de Leno, da dupla Leno e Lilian, que o incentivou a escrever milhares de músicas para artistas da gravadora onde trabalhava, além de também conseguir participar do disco Vida e Obra de Johnny McCartney. Compondo ao lado de Leno, a dupla chegou a sofrer censura e depois de mais um projeto fracassado, Raul começou a se envolver em um projeto de ópera-rock, mas sofreu com a censura do regime da Ditadura Militar. Como seu disco Sociedade Grã Ordem Kavernista era um disco anárquico que criticava o regime militar, Raul não teve sucesso na filial brasileira nem na americana da gravadora onde trabalhava e foi abandonado pelo patrão.
Foi somente em 1972 que Raul decidiu participar do Festival Internacional da Canção, onde ganhou popularidade com a canção Ouro de Tolo, lançada em seu álbum Krig-ha Bandolo! o que fez o artista ter ascensão na carreira e repercussão positiva em território nacional. Logo, ele lançou novos sucessos como Metamorfose Ambulante, Al Capone e Eu Também vou Reclamar, tornando-se um ícone e popular em todo o Brasil. Não demorou muito para a imprensa e os fãs perceberem que Raul Seixas não era um cantor-compositor qualquer.
O artista decidiu homenagear alguns sucessos do rock estadunidense no seu álbum de estúdio Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock, mas era proibido de assinar seu nome na gravadora devido ao receio de prejudicar as vendas do Krig-ha Bandolo!, porém, com o álbum esquecido nas lojas e os sucessos posteriores de Raul, seu nome passou a ser totalmente divulgado pela gravadora Philips. Em 1974, ao lado de Paulo Coelho, Seixas cria a Sociedade Alternativa, inspirada nos preceitos do ocultista Aleister Crowley, o que os fez sofrer com a censura e inspirou as letras de novas canções, como Como a Vovó já Dizia. A censura os levou a serem exilados nos Estados Unidos, onde chegaram a se encontrar com o ex-Beatle John Lennon.
Mais tarde, Raul Seixas lançou novos sucessos como O Dia em que a Terra Parou, A Ilha da Fantasia, Rockixe e diversos outros. Depois de ter três filhas, frutos de diferentes casamentos, Raul Seixas começou a desenvolver problemas de depressão e alcoolismo na época em que começou a se envolver com sua quarta companheira, Kika Seixas. Ele lançou novos álbuns com a gravadora WEA (atual Warner Music Group) antes de reascender seu contrato com a CBS, desta vez como cantor compositor. Ele também chegou a assinar um contrato com a gravadora Som Livre, e não demorou muito para Seixas se mostrar debilitado nos shows e apresentações que fazia.
Raul lançou seu último álbum A Panela do Diabo pouco tempo antes de morrer de parada cardíaca em seu apartamento em São Paulo no ano de 1989. Seixas tinha apenas 44 anos.
Diversas homenagens foram feitas a Raul Seixas, inclusive no ano de 2004, o canal Multishow exibiu um programa em formato de show ao vivo chamado Homenagem a Raul Seixas, que contava com as músicas de Raul Seixas sendo cantadas por grandes nomes da música brasileira, como Caetano Veloso, Pitty, Gabriel o Pensador e outros. O legado de Seixas permanece vivo, a ponto de sua música Tente Outra Vez ser usada como tema de abertura da novela Vitória, da Record, além de ter impactado a música brasileira em todos os sentidos e também ser um dos personagens mais importantes do movimento de contracultura brasileiro.
Até hoje, o artista consta na lista dos 100 Maiores Artistas da Música Brasileira.
Pingback: Diário de um Banana: Um mergulho nostálgico do humor juvenil - Rádio Social Plus Brasil