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Ruby Sparks: A Anatomia de um Relacionamento Tóxico nos Tempos Modernos

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Estar em um relacionamento é, para muitos, um dos pilares da felicidade humana, já que é possível encontrar um(a) companheiro(a) para a vida toda, alguém com quem dividir momentos, acolher emoções e criar memórias. No entanto, não estar em um relacionamento não significa que o indivíduo é infeliz. Muitas vezes, entrar em um relacionamento de forma impulsiva e sem reflexão pode acabar gerando situações fora de controle. Isso acontece porque nem sempre o(a) parceiro(a) é realmente quem imaginamos. Criamos uma versão idealizada do outro, moldada a partir das nossas expectativas, desejos e inseguranças. E o filme Ruby Sparks é um excelente exemplo de como essa idealização pode afetar profundamente a dinâmica de um relacionamento.

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O filme é uma comédia romântica com toques de fantasia, escrita por Zoe Kazan, que também atua no longa-metragem ao lado de Paul Dano, Antonio Banderas, Annette Benning, Chris Messina, Elliott Gould e Steve Coogan.

Fonte: Divulgação/Youtube
RUBY SPARKS: Oficial Trailer

Alerta de Spoiler

Calvin é um jovem escritor que alcançou o sucesso logo no início da carreira, mas que agora se encontra bloqueado criativamente e emocionalmente. Com dificuldades para dar continuidade à sua trajetória como autor e também para se relacionar de maneira saudável, ele vive isolado, enfrentando crises internas. Sua personalidade introvertida e sua visão idealizada sobre o amor o impedem de se conectar verdadeiramente com os outros, inclusive com seus próprios sentimentos.

Na tentativa de superar o bloqueio criativo e a solidão, Calvin começa a fazer terapia. Aconselhado por seu terapeuta, ele escreve uma página sobre uma pessoa que o amaria do jeito que ele é: alguém que o compreendesse e o aceitasse completamente. Inspirado por um sonho em que uma jovem desenhava seu cachorro, Scotty, ele cria Ruby Sparks, uma personagem que parece reunir tudo aquilo que ele busca em um par romântico.

O que Calvin não esperava era que Ruby literalmente ganharia vida. De repente, ela está em sua casa, como se sempre tivesse existido, apaixonada por ele e com personalidade e emoções próprias. Inicialmente, a surpresa é positiva, quase mágica. Ruby é tudo que ele descreveu, e o relacionamento parece perfeito. Mas com o tempo, Ruby começa a agir de forma independente, e Calvin descobre que pode controlar o comportamento dela simplesmente escrevendo novas descrições sobre sua personalidade.

É a partir desse ponto que o filme mergulha em questões profundas sobre o amor, o controle e a idealização do outro. A idealização de Calvin por Ruby é fruto de uma série de fatores psicológicos: o medo da rejeição, o desejo de controle, a carência afetiva e, principalmente, a ideia enraizada de que o parceiro ideal deve suprir todas as necessidades emocionais do outro. Isso é potencializado por uma cultura que frequentemente promove a ideia de que ser amado é ser completado, uma noção romantizada e perigosa.

De acordo com estudos da psicologia, a idealização excessiva de um parceiro ou do relacionamento pode levar à frustração, já que nenhum ser humano é capaz de corresponder às expectativas irreais projetadas sobre ele. Em muitos casos, isso pode evoluir para padrões de comportamento tóxicos, especialmente quando a outra pessoa passa a ser moldada, ignorada ou anulada em função das necessidades do parceiro idealizador.

Fonte: Divulgação/Youtube
Ruby Sparks | Official Trailer #2 HD | 2012

Ruby, sem saber que é uma criação de Calvin, sente-se confusa com as mudanças em sua personalidade e comportamento. Em determinado momento, ela pensa que está sendo traída ao ver Calvin com uma fã. A partir disso, suas emoções se intensificam, revelando que ela é, de fato, uma pessoa com sentimentos reais, capaz de sentir dor, raiva, amor e frustração. O que Ruby ignora é que seu comportamento é influenciado diretamente pelas decisões de Calvin, que, ao reescrevê-la, interfere constantemente em sua liberdade.

O filme retrata com sutileza como o controle emocional pode surgir disfarçado de cuidado. Calvin acredita que está salvando o relacionamento ao ajustar Ruby para que ela se encaixe em suas idealizações, mas na prática, está impedindo-a de ser quem ela é. Ele a apresenta à família, tenta viver uma vida normal com ela, mas sempre que Ruby age de forma diferente do que ele deseja, ele recorre à máquina de escrever para moldá-la de novo.

Esse tipo de relação, no mundo real, pode levar ao que a psicologia chama de amor patológico ou dependência afetiva. Trata-se de um estado em que o indivíduo sente que só pode ser feliz ao lado do parceiro, anulando a própria identidade ou tentando controlar a do outro. A longo prazo, esse tipo de comportamento pode gerar isolamento, ansiedade, instabilidade emocional e até abuso psicológico, e é justamente esse ciclo que Ruby começa a vivenciar no relacionamento com Calvin.

Outro ponto importante abordado no filme é a falta de comunicação. Ao invés de conversar com Ruby, Calvin prefere controlá-la. Isso impede o crescimento do relacionamento e reforça a solidão de ambos. A ausência de diálogo verdadeiro cria uma relação baseada em expectativa e manipulação, não em afeto genuíno.

O ponto de virada da história acontece quando Calvin é levado a refletir sobre os limites entre o amor genuíno e o desejo de controle. Ao longo da trama, ele percebe que a tentativa de moldar alguém para se encaixar em suas expectativas não apenas impede o crescimento do outro, mas também o aprisiona em suas próprias inseguranças. Essa transformação interna marca um momento crucial para ele: compreender que amar não é possuir, corrigir ou comandar, mas sim aceitar e permitir que o outro seja livre, inclusive para fazer escolhas que não envolvam você.

Esse processo de autoconhecimento dialoga diretamente com os desafios dos relacionamentos modernos. Em uma época em que tudo parece customizável, inclusive as conexões afetivas, há uma tendência a projetar no parceiro a imagem ideal do “companheiro perfeito”, aquele que nos entende sem que precisemos explicar, que nunca falha e que existe quase como uma extensão de nós mesmos. Redes sociais, algoritmos de aplicativos de relacionamento e até discursos de autoajuda podem alimentar essa fantasia de compatibilidade total, quando a realidade exige justamente o contrário: escuta, diálogo, negociação e, acima de tudo, espaço para a individualidade.

Fonte: Divulgação/Youtube
RUBY SPARKS: “Have We Met?”

Zoe Kazan foi amplamente elogiada por seu roteiro criativo e profundo, além de sua atuação sensível. A crítica especializada recebeu o filme de forma bastante positiva: Ruby Sparks – A Namorada Perfeita alcançou 80% de aprovação em sites como o Rotten Tomatoes. A obra se destaca por unir fantasia e realismo psicológico de maneira leve, mas impactante.

No fim, Ruby Sparks nos ensina que, embora o amor seja um sentimento atemporal, suas armadilhas ainda são universais. Idealizar um parceiro é fácil, difícil é amar alguém com todas as suas imperfeições. Assim é proposta uma lição sobre os tempos atuais: em vez de buscar um par ideal para completar quem somos, talvez o maior desafio e também a maior beleza esteja em aprender a amar o outro como ele é, e não como gostaríamos que fosse. Como Calvin aprendeu, relacionamentos saudáveis exigem liberdade para que ambos possam amar, errar, perdoar e, quando necessário, recomeçar.


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