Por Onde Anda Terence Trent D’Arby, dono da famosa música “Wishing Well”
Do auge pop dos anos 80 e 90, restam apenas três letras empoeiradas: TTD. Terence Trent D’Arby, o artista de voz rouca e tranças fartas, que causou furor com sucessos como “Wishing Well” em 1987, parece ter enterrado esse capítulo de sua vida sob o tapete curricular. Hoje, renascido como Sananda Maitreya, ele prefere focar no presente, numa vida pautada pela música e pela reinvenção pessoal.
A era dourada de Terence Trent D’Arby gerou três discos de platina na América do Norte e Europa, Grammy como melhor artista masculino de R&B em 1988, shows para multidões e participações em festivais marcantes. Contudo, em 2001, algo mudou drasticamente. Terence Trent D’Arby, como o conhecíamos, morreu oficialmente, dando lugar a Sananda Maitreya.
Em entrevista ao jornal O Globo, Sananda expressa sua relutância em reviver o passado: “Não passo muito tempo olhando para trás. Não me sinto confortável dando entrevistas porque as pessoas ficam muito preocupadas com minha vida passada. Não convivo bem com o passado, por isso sou relutante em responder a algumas questões.”
A mudança de nome não foi uma estratégia publicitária. Em outubro de 2001, após uma série de sonhos, Terence Trent D’Arby decidiu legalmente se tornar Sananda Maitreya. Ele afirma: “O passado pertence a TTD. Eu sou o enviado para viver esta vida. Se aquela vida tivesse algo a me oferecer além de grande frustração e dor, nós teríamos insistido nela.”
A jornada de Terence Trent D’Arby começou de maneira inusitada na Alemanha Ocidental durante a Guerra Fria. Após vencer um torneio de boxe amador e uma passagem pelo exército, o embrião da carreira artística se formou. Ele tornou-se vocalista de bandas obscuras, como The Touch e The Bojangels, antes de decolar como artista solo em Londres.
Assista ao clipe de “Delicate” com a participação da cantora Des’ree
A autobiografia não escrita de Sananda salta para 1995, quando ele optou por matar Terence em prol da arte. Ele explica: “Tinha uma escolha entre o nome e a arte. Fiz a única escolha que poderia: pela arte.” O artista acredita que muitos ficam estagnados por causa do nome, enquanto ele escolheu crescer pela arte, mesmo que isso tenha significado abandonar a identidade anterior.
Atualmente, aos 53 anos, Sananda Maitreya reside em Milão, onde acaba de gravar o álbum duplo “The Rise of the Zugebrian Time Lords”. Com uma mistura de rock, soul, R&B, blues e jazz, ele busca reescrever sua narrativa perdida na mídia. Em Milão, ele encontra inspiração na cultura europeia e reflete sobre a oportunidade de se reconectar com suas raízes musicais.
Sananda Maitreya enfrenta o desafio de se reconectar com seu público. Enquanto muitos ainda se lembram de Terence Trent D’Arby, poucos conhecem o artista que renasceu das cinzas. Com apenas 2.500 seguidores no Twitter, ele espera um retorno ao Brasil, país pelo qual é apaixonado, quando a oportunidade se apresentar.
O amor pela música é o que impulsiona Sananda Maitreya. Ele busca recompensar a música com o “mais profundo sacrifício do meu coração”, criando uma melodia que é a soma do que ele é e sempre amou. Onde quer que ele esteja, seja Milão ou o Brasil, Sananda Maitreya continua a trilhar seu caminho, escrevendo uma nova história além das sombras de Terence Trent D’Arby.
Lançamento de “The Ballad Of Rod Steiger”
Em outubro de 2023 Sananda Maitreya lançou o single “The Ballad Of Rod Steiger”. Veja depoimento do cantor a respeito desta produção e assista ao clipe a seguir:
“Junto com muitos outros artistas criativos, compartilho um grande amor e admiração por uma boa narrativa bem apresentada. Não é difícil imaginar quão difundida é a realidade de ser inspirado por aquilo que é emocionalmente concebido e dinamicamente bem elaborado. Na verdade, muitas músicas minhas foram criadas ao longo dos anos, sentado em um cinema escuro, enquanto assistia à comunhão entrelaçada de Sombras e Luz, espalhando sua magia, ricocheteando em uma tela de cinema e de volta aos nossos olhos.
Durante os últimos anos em que morei em Malibu, Califórnia, antes de retornar à Europa, tive o privilégio de ter a oportunidade de conviver brevemente com o grande ícone do palco e da tela ROD STEIGER. Eu costumava vê-lo em seu Volkswagen Cabriolet bege-acastanhado dirigindo para cima e para baixo pela Pacific Coast Highway, com suas camisas pólo de colarinho estourado e um chapéu estilo beatnik, digno de praia, usado de maneira atrevida no topo da cabeça. E para não ficar atrás estavam seus (na maioria das vezes) shorts cargo e sapatos de barco.
Nós dois preferíamos o mesmo Posto de Gasolina, um Union 76 bem na rodovia e um dia quando o vi lá também reabastecendo seu automóvel, tive a oportunidade de me apresentar a ele como um grande fã que apreciou muito sua imensa contribuição para o Arte e História do Cinema. E como muitas vezes acontece com nós que trabalhamos nas artes, a lisonja ganhou sua atenção e que afeto caloroso fluiu depois disso. Eu também fiquei perplexo por ele ter ouvido falar de quem eu era e, por um breve período de tempo, eu o convidaria para almoçar em um restaurante local chamado ‘TAVERNA TONY’S’, onde fluía comida grega e uísque. Em troca da minha generosidade em hospedá-lo, eu receberia como presente suas lembranças dos “Dias Dourados de Hollywood”. E como os compositores são eles próprios os Guardiões dos Contos das Mil Noites, eu me deleitei com o brilho dessas reminiscências e apreciei os momentos cobiçados nelas. Sem mencionar seus conselhos experientes sobre minha própria vida na época. (*)
Por este meio, saudamos todos os atores, escritores, diretores, produtores e aqueles cujas visões e trabalho na indústria incendiaram a imaginação do mundo e nos deram a matéria nuclear dos sonhos e, muitas vezes, um lugar suave para nossos medos pousarem.
Sananda Maitreya!”
https://www.youtube.com/watch?v=ha8ofcQiVtg