Do Streaming aos Palcos: A Ascensão do K-pop no Brasil
Há alguns anos, poucas pessoas imaginavam ver multidões vestindo merchandising de grupos de K?pop, sorrisos pintados com bandeirinhas ou gritando refrões em coreano em estádios, tudo isso enquanto se transmitiam playlists e entrevistas ao vivo nas rádios. Hoje é uma realidade indiscutível. Mas como essa transformação aconteceu? A jornada do K?pop, desde suas origens até seu domínio global e a influência no Brasil, é marcada por estratégia, talento e visão de futuro.
O K?pop não nasceu de um dia para o outro. Entre os anos 1990 e 2000, a Coreia do Sul passou por várias transformações culturais e econômicas. Num esforço consciente de modernização e soft power (poder de influência cultural), o governo sul-coreano identificou no entretenimento uma alavanca poderosa para elevar sua imagem no exterior.
Empresários e corporações como SM Entertainment, YG Entertainment e JYP Entertainment investiram pesado em treinamento de talentos: os chamados trainees. Esses jovens passavam por um rigoroso processo que incluía canto, dança, idioma, postura, carisma e até etiqueta. O resultado são artistas multifacetados com qualidade técnica acima da média, aptos a atrair públicos fora da Coreia.

????(MOMOLAND) ‘Show Me’ M/V Teaser 1.
Esse modelo de treinamento intensivo, mais o conceito visual marcante, coreografias sincronizadas e cenários repletos de estética pop ultra cuidada, deram origem ao chamado “K?pop moderno”: um produto sofisticado criado para o consumo em massa. Mas só isso não bastava, era necessário apresenta-lo ao mundo.
Desde os anos 2000, o governo de Seul começou a entender que a cultura era um ativo valioso. Surgiram subsídios, escolas especializadas, bolsas para o audiovisual, apoio à exportação de conteúdo e iniciativas diplomáticas culturais. Programas de intercâmbio, festivais no exterior e apoio a emissoras públicas ajudaram a internacionalizar séries, filmes, quadrinhos (manhwa) e, claro, a música.
Um fato importante foi o fenômeno conhecido como Hallyu, a onda coreana, que começou com o sucesso de dramas como Winter Sonata e expandiu rapidamente para a música. O K?pop se beneficiou diretamente disso: políticas de incentivo a turnês, facilitação de vistos para artistas, apoio em plataformas digitais e até laços com a indústria do turismo. Esse pensamento estratégico convergia com uma visão de longo prazo: enquanto o mundo busca consumo de experiências únicas e conteúdo de qualidade, a Coreia apostava seu futuro cultural em histórias bem contadas e sons bem produzidos, algo que hoje vemos nas fanbases globais.
[MV] HYOLYN, Kisum(??, ??) _ FRUITY (Prod. GroovyRoom)
A partir desse marco, surgiram grupos como BTS, BLACKPINK, TWICE, EXO, SEVENTEEN e inúmeros outros. Não apenas tiveram milhões de views: álbum físico, streams, venda de mercadorias e ingressos se tornaram números astronômicos. A gramática viral do K?pop: unir um single cativante a um videoclipe forte e coreografias fáceis de replicar permitia que fãs em qualquer país reproduzissem, covers se espalhassem nas redes e o algoritmo garantisse novidade e repetição constante.
E o Brasil?
Até os anos 2010, o Brasil assistia ao K?pop à distância. Mas, rapidamente, a cena se organizou e ganhou força. Iniciativas de fãs cresceram, tradutores amadores viram seu trabalho viralizar, grupos de covers começaram a aparecer e, em festivais de cultura asiática ou cultura pop, espaços eram garantidos para exibição de clipes, fan-meetings e concursos de dança.
Cada tour era puxado pelos fanclubs, impulsionados no WhatsApp, Instagram e Twitter. Em paralelo, rádios passaram a dedicar espaço, não só pela demanda, mas por potencial de público jovem, multicultural e ávido por conteúdo fresco.
Embora ainda minoritária, a fatia de mercado do K?pop no Brasil já exige respeito: marcas investem, redes de streaming contratam influenciadores K?pop e emissoras de música contam com especialistas que comentam estreias, mv (music videos), premiações internacionais e polêmicas, tudo em tempo real.
O K?pop não é apenas som: é conteúdo audiovisual, moda, branding e comunidade. Cada comeback (lançamento cíclico de álbum) é rodeado por storytelling: conceito visual, teaser, coreografia, universo inspirado em cinema, videogame ou arte contemporânea; tudo isso gera narrativa e aproxima com fãs. No Brasil, isso significa que a cobertura não se resume a rádio ou website: é pauta em blogs, canais de YouTube, lives, podcasts, eventos. DJs e apresentadores criam quadros explicativos. A sonoridade variada, do pop ao hip?hop, do EDM à balada, torna-se trilha sonora de shoppings, festas temáticas e até conteúdo de vídeos para mídias sociais.
Com isso, a Hallyu segue em sua fase mais intensa, agora com artistas coreanos considerando o Brasil como rota estratégica para futuras turnês. E o fenômeno não se limita à música: o interesse pelo idioma coreano – ao lado do japonês – vem crescendo de forma constante entre brasileiros, impulsionado pela popularidade dos k-dramas (séries dramáticas sul-coreanas) e pelo apelo da cultura pop oriental como um todo.
Atualmente, o K?pop caminha rumo a um futuro ainda mais promissor. Com colaborações internacionais, investimentos híbridos e experiências imersivas, o gênero já deixou de ser apenas um fenômeno de streaming ou de grandes estádios. Ele começa a se infiltrar na música nacional, no turismo cultural, na educação, nos eventos universitários e até em novas formas de produção artística, como a foster music. O K?pop não é mais uma tendência passageira, é um movimento global em constante expansão, e o Brasil, cada vez mais, faz parte dessa jornada.
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